Caros todos,
Deu na Folha de São Paulo: a direção da Globo obrigou os autores da novela Insensato Coração a praticamente dissolver o núcleo gay da história. Os protagonistas vinham defendendo, mesmo que com as conhecidas limitações do folhetim das 21 horas, posições acolhidas pelas organizações que defendem os direitos dos homossexuais. Cenas foram cortadas e, de acordo com a Folha, “a ordem é esfriar o assunto sem polemizar”. A Globo deu também um basta ao que chamou de “apologia pela criação de uma lei que puna a homofobia”. Simultaneamente, manteve intacto o papel de outro personagem gay, cujo gestual caricato mas engraçado parece inofensivo para os padrões globais. Em resumo: censura descarada, pilotada por um veículo de comunicação que defende, cinicamente mas com portentosa ênfase, a liberdade de expressão. O público, a quem não se reconhece a capacidade de pensar, articular e concluir, continua a ser tratado como imbecil.
Pouca gente já deve ter ouvido falar de São João da Boa Vista. Fica a uns 200 km de São Paulo e vive da agropecuária. Ontem, pai e filho aguardavam, abraçados, suas namoradas depois de um show sertanejo em São João. Foi o suficiente para serem “confundidos” com homossexuais e agredidos violentamente por um bando de jovens. O pai teve parte da orelha decepada.
Por um lado, uma poderosa rede de televisão, ciente da influência de grupos religiosos conservadores sobre a audiência (e, por tabela, os patrocinadores), veta um debate social importante. Por outro, surgem indícios de uma intolerância crescente e cada vez mais agressiva contra os homossexuais. Posso estar enganado, mas a violência física contra os gays parece ter uma espécie de aprovação branca de boa parte da sociedade. Seria como uma “punição merecida dos pervertidos”. Ninguém admite, mas ... Uma ONG ligada aos homossexuais afirma que a homofobia causa, em média, um assassinato a cada dois dias no país.
Aliás, que país é esse? Será que não está na hora de repolitizar as Paradas Gays, que foram carnavalizadas e viraram atração turística, deixando para segundo plano a massificação da luta pelo respeito à opção sexual de cada um? O capital, que tira vantagem dessa descaracterização, tem perigosa capacidade antropofágica: engole tudo, até mesmo o que lhe contesta, digere e vomita lucro. Che Guevara em camisetas de grife está aí mesmo para provar. Tostão, meu colunista esportivo predileto, disse que “o Brasil é o país da maquiagem e da enganação”. Botar a culpa nos outros e não reagir: fórmula perfeita para merecer os podres que nos visitam diariamente e dos quais não paramos de reclamar. Melhor (ou pior): adoramos reclamar.
Abraço
Jacques Gruman
Deu na Folha de São Paulo: a direção da Globo obrigou os autores da novela Insensato Coração a praticamente dissolver o núcleo gay da história. Os protagonistas vinham defendendo, mesmo que com as conhecidas limitações do folhetim das 21 horas, posições acolhidas pelas organizações que defendem os direitos dos homossexuais. Cenas foram cortadas e, de acordo com a Folha, “a ordem é esfriar o assunto sem polemizar”. A Globo deu também um basta ao que chamou de “apologia pela criação de uma lei que puna a homofobia”. Simultaneamente, manteve intacto o papel de outro personagem gay, cujo gestual caricato mas engraçado parece inofensivo para os padrões globais. Em resumo: censura descarada, pilotada por um veículo de comunicação que defende, cinicamente mas com portentosa ênfase, a liberdade de expressão. O público, a quem não se reconhece a capacidade de pensar, articular e concluir, continua a ser tratado como imbecil.
Pouca gente já deve ter ouvido falar de São João da Boa Vista. Fica a uns 200 km de São Paulo e vive da agropecuária. Ontem, pai e filho aguardavam, abraçados, suas namoradas depois de um show sertanejo em São João. Foi o suficiente para serem “confundidos” com homossexuais e agredidos violentamente por um bando de jovens. O pai teve parte da orelha decepada.
Por um lado, uma poderosa rede de televisão, ciente da influência de grupos religiosos conservadores sobre a audiência (e, por tabela, os patrocinadores), veta um debate social importante. Por outro, surgem indícios de uma intolerância crescente e cada vez mais agressiva contra os homossexuais. Posso estar enganado, mas a violência física contra os gays parece ter uma espécie de aprovação branca de boa parte da sociedade. Seria como uma “punição merecida dos pervertidos”. Ninguém admite, mas ... Uma ONG ligada aos homossexuais afirma que a homofobia causa, em média, um assassinato a cada dois dias no país.
Aliás, que país é esse? Será que não está na hora de repolitizar as Paradas Gays, que foram carnavalizadas e viraram atração turística, deixando para segundo plano a massificação da luta pelo respeito à opção sexual de cada um? O capital, que tira vantagem dessa descaracterização, tem perigosa capacidade antropofágica: engole tudo, até mesmo o que lhe contesta, digere e vomita lucro. Che Guevara em camisetas de grife está aí mesmo para provar. Tostão, meu colunista esportivo predileto, disse que “o Brasil é o país da maquiagem e da enganação”. Botar a culpa nos outros e não reagir: fórmula perfeita para merecer os podres que nos visitam diariamente e dos quais não paramos de reclamar. Melhor (ou pior): adoramos reclamar.
Abraço
Jacques Gruman
jul/2011
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